Espelhos didáticos e de entretenimento? A receção e a função do conto na literatura moral, catequética e hagiográfica em Portugal no século XVII

  • Paula Almeida Mendes CITCEM, Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Palavras-chave: conto, literatura, exemplaridade, entretenimento, Portugal, Século XVII

Resumo

Género cultivado, por meio do registo escrito, desde a Idade Média – de que é exemplo o Horto do Esposo –, mas largamente difundido através de uma ancestral circulação oral, o conto conhece, em Portugal, um muito significativo sucesso, com a edição dos Contos e Histórias de proveito e exemplo (1575), de Gonçalo Fernandes Trancoso, que, como é sabido, reflete, em boa medida, a receção e a influência da “novella” de matriz italiana, sobretudo de Boccaccio ou Bandello. Pese embora o facto de, ao longo do século XVII português, não ter sido editada qualquer coletânea de contos, nos moldes da de Trancoso, tal quadro não significa que o género tenha caído em desuso ou no esquecimento. Neste sentido, tentando mostrar a perenidade do conto no discurso escrito, este artigo procura chamar a atenção para os moldes em que este género continuou a ser cultivado, ainda que, por vezes, apresentando matizes diversos, tributários de uma evidente intertextualidade, mas que não poderão ser dissociados da sua função didáctica e de entretenimento, como o Casamento Perfeito (1630), de Diogo Paiva de Andrada, o Baculo Pastoral (1624), de Francisco Saraiva de Sousa, os Paralellos de Principes (1623), de Francisco Soares Toscano, e até mesmo o Agiologio Lusitano (1652-1666), de Jorge Cardoso.

Publicado
2019-02-22